sábado, 9 de março de 2024

GRIEF

Dois anos e três meses. Dois anos e três meses. Você perguntou se eu era sua e eu disse que eu nunca não fui. Dessa vez durou dois dias. Você quase sentiu meu pulso, pulso este que pensei ser imperceptível, fácil de perder. Dois dias. 

Senti algo afundar aqui dentro, um rasgar que cavou em mim o lugar onde eu poderia facilmente me enterrar para todo o sempre. O luto desta vez não é por você, é por mim. Se houvesse um botão, eu o apertaria agora, o apertaria na intenção de implodir, pois existir se tornou uma tarefa árdua demais para alguém sem fôlego, sem rumo e sem vontade.


J.S

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

SLAUGHTERHOUSE

Um dia. Falta um dia. Demorei dois anos e três meses para voltar. Dois anos e três meses. Me tornei um outro alguém nesses dois anos, ainda que não tenha  a certeza de que esse novo alguém seja realmente eu, eu sei que não sou a mesma.

Mudança me assusta, ao mesmo tempo é a única constante na minha vida desde criança, ainda assim eu detesto. Gostaria de ter uma vida previsível, pacata. Gostaria de criar raízes em algum lugar e não ser que nem meus pais que passaram a vida fugindo de seus demônios.


Ontem falei brevemente com minha mãe sobre tudo que tem dado errado recentemente e ela me mandou alguns versículos da bíblia para que eu pudesse orar a Deus para que esta batalha espiritual chegue ao fim. Tive um mix de sentimentos, por um lado é uma oportunidade perfeita para me aprofundar na minha espiritualidade e continuar buscando a Deus, por outro lado, eu gostaria que minha mãe tivesse conselhos práticos para me dar, gostaria que ela fosse alguém que vivesse neste mundo, soubesse me aconselhar e não fosse tão perdidamente esperançosa. Não que eu não acredite em Deus, eu acredito. Se é por mérito meu ou indoutrinação, já é outra conversa, mas eu não acredito que a solução para todos os meus problemas esteja na bíblia ou em qualquer outro livro sagrado. Me custa a entender esse conceito.

Mas não chegarei a nenhuma conclusão tão cedo assim, afinal de contas falta um dia. Amanhã eu vou acordar cedo, vou me arrumar e vou enfrentar o que eu demorei tantos anos a enfrentar, não sei se serei recomeço ou se serei o fim. Decidirei ao chegar lá.

Esta semana teve um gosto de inferno astral, neste fim de semana espero me livrar do sabor amargo que ficou. Espero me livrar do sentimento de animal indo ao abate. 

J.S

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

NO SURPRISES

Não sei o que está acontecendo comigo ultimamente, mas sinto que tudo ao meu redor está desmoronando e estou desmoronando junto. Pode ser que eu não saiba lidar com adversidades e talvez eu não saiba resolver problemas de uma forma adulta e não destrutiva, pode ser que Deus esteja me punindo, ou minha mente me sabotando. Pode ser que os cosmos estejam em guerra e isso esteja me afetando.

Há uns dias atrás notei algo meio desesperador em mim. Notei que eu não consigo chorar. Antes era algo que acontecia com facilidade. Minha mãe sempre me repreendeu por ser chorona e me mandava engolir o choro com bastante frequência. 

Mas recentemente eu notei que não choro mais. Fico triste, fico desesperada, meus olhos se enchem de lágrimas mas nenhuma cai. Uns minutos depois as lágrimas acumuladas nos meus olhos secam e eu volto ao normal.

Em dias normais eu não ligaria muito para isso, mas hoje eu estou me sentindo uma aberração por não conseguir sequer chorar, logo hoje que eu tanto precisava chorar.

Tentei pensar nos motivos disso estar acontecendo e provavelmente tem a ver com meus medicamentos. Tomo um antidepressivo que me ajuda a dormir e regula meu humor. Não lembro se isso começou logo que comecei a tomar esse remédio, há dois anos atrás, mas lembro que em algum momento no passado eu já consegui chorar normalmente.

 

Hoje o dia vai ser um grande desafio, tudo parece estar dando errado na minha vida, me sinto abandonada e sinto que sou um erro. Só queria poder chorar.

 

J.S

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

DISCOVERY

 Não sei em que momento eu descobri isso sobre mim, nem sei se vejo isso como uma descoberta real, sinto que sempre o soube e de alguma forma bem fodida eu tentei entrar em algum molde que me fizesse mais fácil de digerir, ou de amar. Me lembro de ter 8 anos e ter sentimentos por uma menina da minha sala, não me recordo de ter tido sentimentos por nenhuma menina antes disso. Creio que antes disso eu só gostava de meninos, me recordo de ter 5 anos e beijar alguns meninos na escola. Sempre o mesmo roteiro, nos encontrávamos no corredor, ao sair do banheiro e nos beijávamos. Não sei ao certo de onde vinham esses desejos e nem sei se era normal para a minha idade, só sei que aconteceu. 

Cresci e minha atração parecia ser apenas por homens, tenho a leve sensação que eu me convenci disso, eu tentava ao máximo internalizar esse pensamento e resultou por anos, até que recentemente eu desenterrei alguns dos meus sentimentos e me vi confortável o suficiente e longe da opressão dos meus pais, e foi aí que eu me redescobri bissexual. 

Uma menina em específico desencadeou esse sentimento em mim, não a conheço pessoalmente nem nada do tipo, apenas a sigo no instagram, algo nela me atrai. Ela é 100% o tipo de mulher que me chama á atenção, fisicamente e mentalmente. A comfortabilidade dela com a própria sexualidade é louvável, e cada traço, cada curva inspira um querer, aflora um lado diferente nas minhas preferências sexuais. Não é tão sexual quanto romântico, mas talvez seja por não ter desenvolvido esse lado ainda, talvez seja algo que se transforme quando e se acontecer algum dia...

Por enquanto é algo que guardo só para mim e algumas amigas bem próximas, sinto que minha família ficaria horrorizada ao saber, visto que para eles bissexuais são pessoas pervertidas, indecisas e escravas da lascívia.


J.S

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Alex

 Como explicar o que eu senti/sinto pelo Alex? A primeira coisa que senti quando o vi em um app de relacionamentos casuais foi uma atração física magnética, quase fatal. Ele tinha todos os traços de um homem que eu simplesmente precisava ter na minha cama, ou na dele, pouco me importava desde que eu pudesse um dia tê-lo. 

Não querendo ser um clichê ambulante mas... ele tinha um traço que mexia com as minhas emoções, ele era arredio, parecia difícil de conseguir sua atenção completa e eu sempre gostei disso por me lembrar a negligência emocional que era o combustível do meu não-relacionamento com meu pai. Patético, eu sei. 

Na mesma dose em que o Alex se mostrava distante e frio, ele também mostrava ter profundidade e conhecimento do seu mundo interno; ele falava como alguém que se conhece, se entende e é capaz de sentir, ele admirava a arte e se via nela, ele seguia uma religião e buscava a Deus e ele lia livros e se rodeava de intelectuais. 

Um fator que eu não posso deixar de mencionar e que foi o fator definidor para mim, é que eu conheci o Alex quando eu ainda estava em um relacionamento e suspeito que ele também. O meu era um relacionamento abusivo, onde eu fui traída inúmeras vezes, negligenciada e abusada. Qualquer matéria sobre relacionamentos abusivos terá uma descrição que poderia rapidamente sumarizar meu relacionamento de 4 anos com esse meu ex. 

A adrenalina que vinha de trair meu namorado da época, através de conversas picantes com o Alex, me deu vida, me fez sentir desejada novamente e me ajudou a me desprender das garras do meu ex namorado. Ficamos conversando por quase dois anos antes de nos encontrarmos pessoalmente pela primeira vez, em 2019. Nossa interação sempre foi extremamente carnal e intensa, dali em diante eu passei a quase venerar o Alex, ele se tornou o ideal de um homem. E eu só queria estar com ele o tempo todo, me imaginava passando o que me resta da minha vida ao lado dele, só que... eu sou uma ferida aberta. Eu sangro, me derramo, inflamo e não demorou muito até que eu começasse a sentir as dores de ser consumida pelo Alex. Ele me dava toda a intimidade física que eu precisava, quando nos encontrávamos, me dava também as palavras que eu precisava quando não estávamos juntos, só que aquela mesma distância emocional do início se via presente. 

As barreiras emocionais eram palpáveis, tanto minhas quanto dele, até que um dia ele sumiu. Dois meses se passaram e ele voltou, me mandou mensagem com um número novo e disse que queria me ver. Nesses dois meses eu não tentei entrar em contato. Ter um pai ausente e frio me fez adaptar á distância e indiferença de um homem, então quando eu recebi as mensagens do Alex, eu já estava totalmente desapegada e me afastei sem dar explicações. Nunca o respondi. Isso foi no fim de 2021. 

De lá pra cá me envolvi com dois homens, romanticamente. Nada sexual. Esse bloqueio sexual veio por sentir que talvez o Alex fosse a minha alma gêmea, me vi presa a ele. Por esse motivo em 2023 decidi quebrar o silêncio e mandei uma mensagem para ele me explicando, falando tudo o que eu senti quando ele sumiu. Foi uma experiência catártica e revolucionária para mim, que sempre guardei tudo para mim.

E isso me traz até os dias de hoje. Falamos quase todos os dias, iríamos nos encontrar este fim de semana, mas ele teve um imprevisto e remarcamos pro próximo. Sinto que terei a resposta que busco, se ele cancelar novamente, será a prova absoluta de que ele não é a pessoa certa para mim e de que quando um homem realmente quer, ele vai atrás e te tem como prioridade. 

Se ele não cancelar e a gente se encontrar, eu vou ter a oportunidade de sentir tudo novamente e destruir o bloqueio sentimental e sexual que tenho tido desde 2021, além de analisar bem cada detalhe da psique dele, para entender quem ele realmente é e o que existe por trás de todas as barreiras que ele colocou entre nós. E esse é o ponto final da história do Alex: eu sempre o quis porque ele atiça a minha curiosidade, ele me faz querer dissecar cada camada dele, ele me estimula e no fundo eu tenho medo de nunca encontrar outra pessoa assim, porque de alguma maneira eu acredito que sou profundamente defeituosa e não inspiro afeto de ninguém.


J.S

2024

 Este ano mal começou e já mostrou que veio para ser um ano desafiador na minha vida, desde os problemas que eu tive no trabalho com o menino com quem estava tendo um romance, aos pequenos estresses da minha vida pessoal, como a espera infinita para a realização de alguns objetivos, a gestão caótica das minhas finanças (não tenho muita responsabilidade financeira e não sei planejar meus gastos direito), meus problemas de sono e dificuldade em controlar minha ansiedade; que se alastra em meu ser como um incêndio florestal. 

Decidi que antes dos 30 (tenho mais 3 anos) irei aprender a controlar pelo menos minha ansiedade, parar de me preocupar e ruminar coisas que eu não posso resolver de imediato e coisas que não dependem de mim para acontecer. Isso ás vezes tira meu sono, mesmo com a medicação que eu tomo para dormir a minha ansiedade consegue me manter acordada, é horrivel quando acontece e eu simplesmente não posso permitir que esse comportamento continue.

As medidas que eu tomei para conseguir ter uma noite de sono tranquila e que por agora estão resultando: 

- Não comer nada depois das 8 da noite;

- Não escutar musica depois das 6 da tarde;

- Evitar usar meu celular 30 minutos antes de dormir;

- Preocupações e devaneios só durante o dia, o que significa que eu posso me preocupar com TUDO, com Deus e o mundo durante o dia desde que á noite meu cerébro seja só meu, sem pensamentos sobre mais nenhum outro assunto, só silêncio e pequenos monólogos descontraídos.

Quanto aos outros problemas... Não sei exatamente como vou os resolver. Em Novembro tenho o momento mais importante da minha vida, vai ser a realização de algo que quero desde os 13 anos e eu só quero que tudo melhore logo para que eu possa organizar minha mente e chegar em Novembro leve, pronta para me fazer um ser novo.


J.S

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

UGH

Daqui a uma semana vou voltar pra minha equipe inicial. Pedi um afastamento temporário para lidar com uma situação de assédio, que resultou na suspensão de um colega meu com quem eu estava tendo algum tipo de relacionamento. Pedi esse afastamento pois a situação que era para ser confidencial vazou e todo mundo ficou sabendo dos detalhes íntimos e isso gerou muita fofoca, teorias e comentários sem noção. Voltar para essa equipe é uma escolha meio inevitável, não posso correr dos meus problemas para sempre, né? E parte de mim acredita que pedir um afastamento definitivo seria meio que desistir e isso me faria sentir uma derrotada. Não quero dar esse gostinho para ninguém, ao mesmo tempo o ódio e rancor me consomem de uma forma que está sendo prejudicial para minha saúde mental.


Sobre esse "relacionamento"... sempre tive uma leve atração por situações caóticas, meus relacionamentos passados e experiências sexuais não me deixam mentir. O risco e o potencial para o desastre sempre fizeram meu coração bater, porque de alguma forma ou outra eu enxergo essas situações como uma forma de me auto destruir, uma forma de polarizar minhas emoções. E esse relacionamento foi apenas isso, começou com um flerte e eu deixei a coisa progredir, sempre com o pé no acelerador, sabendo que em algum momento aquilo iria dar muito errado e deu. Ele mostrou ser um canalha, agressivo e mau caráter e eu mais uma vez me vi em uma situação horrível. Gostaria de me enxergar como vítima, mas me enxergo mais como uma participante ativa no meu próprio declínio. Foram esses tipos de comportamento que me levaram até á terapia, onde descobri que sofro de transtorno de personalidade borderline e entendi um pouco mais os meus gatilhos, a minha história e a minha identidade, todos esses são temas que irei escrever sobre em algum post futuro.



J.S